Olá Atila,
Tudo bem?
Conversamos algumas vezes por telefone sobre uma potencial entrevista logo antes da pandemia. Enviei o material de referência por e-mail logo depois, como combinado.
A pandemia chegou no Brasil praticamente na mesma semana e vi que estava atribulado demais para te pedir qualquer coisa naquele momento…
Mais tarde conversamos rapidamente por telefone sobre a disponibilização do áudio de sua primeira grande live sobre a pandemia. Recentemente tentei retomar contato e não consegui mais te ligar. A chamada passou a ser sempre recusada.
Pensei:
Tudo bem. Ele deve estar sendo muito requisitado. Vou enviar um novo e-mail.
Não houve resposta. Enviei outro, e outro, e outro… Enviados as vezes a partir de meus endereços de e-mail pessoais e outras pelos profissionais, afinal vai que caiu na caixa de spam e ele não viu?
Pensei:
Tudo bem. Ele deve estar recebendo centenas de pedidos de mil coisas, sem falar de ameaças de trolls…
Inseri uma “contagem” no título do e-mail e um pedido de “pelo menos responde com um não” no final… Deixei recado no Telegram, mensagem no Whatsapp, Twitter… Nada…
Ontem mandei o vigésimo e penúltimo e-mail.
Bem Átila,
continuo admirando profundamente seu trabalho e atuação na área de divulgação da ciência. Continuo de quarentena com minha família e só saio quando disser que pode. Mas Átila, te acompanho desde sua primeira participação no Nerdcast. Assisto o Nerdologia desde quando você era só uma voz. O seu trabalho me inspirou a dedicar uma parte maior do meu tempo a divulgação científica.
Nosso projeto de divulgação infelizmente ainda está em uma bolha minúscula, microscópica perto do que você traz de informação para a sociedade. Mas ocupamos um nicho importante e até pouco tempo atrás eramos os únicos a ocupar esse nicho na podosfera. Nós entrevistamos pesquisadores de todos os cantos do Brasil e também do exterior tentando mostrar o lado humano da ciência e do cientista. Pautamos nossa conversa pela jornada do héroi que você – como bom nerd – conhece muito bem.
Somos um projeto independente, sem vínculo com nenhuma grande universidade, nenhuma grande empresa, nem instituto. O core do nosso grupo é formado por pessoas na faixa dos 40 anos de idade, com família e filhos. Fazemos isso por que acreditamos nesse projeto, saímos completamento da nossa zona de conforto, pagamos do próprio bolso e com a ajuda de um grupo seleto de ouvintes e apoiadores.
Centenas de jovens e estudantes nos escrevem sobre como colocaram em xeque suas perspectivas em relação a vida, o universo e tudo o mais a partir dos relatos de vida de nossos entrevistados e do conteúdo que geramos. Lhe procurei por que sei que você ralou e estudou muito para chegar onde está. É muito comum ver idolatria a pessoas que estão no auge de suas carreiras, mas tentamos mostrar a jornada e que nada caiu do céu.
Os grandes nomes que tivemos oportunidade de conversar, na maioria das vezes, foram as pessoas mais humildes e com o coração mais aberto que encontramos. No entanto, em alguns poucos casos, encontramos pessoas que passaram a acreditar na idolatria da qual são o centro e se mostraram grandes personas inacessíveis, acima de projetos pequenos como o nosso. Quero crer que você não é uma dessas celebridades. É muito difícil acreditar nisso, conhecendo a sua história e trabalho. Me recuso a acreditar nisso.
Quero crer que é apenas um momento tão turbulento que você não conseguiu parar para me responder a um dos e-mails com “desculpe, mas no momento não dá.”.
A porta estará sempre aberta se, no futuro nessas reviravoltas da vida, a gente acabar se encontrando em algum corredor por aí. Mas desisto de tentar te convidar para gravar um episódio sobre sua jornada como biólogo e pesquisador…
Obrigado mais uma vez por ser um farol de lucidez no meio da escuridão que nos encontramos.
Abs.,
Fernando Lima